Capítulo 3
Por Anna Carolina Negri
“Muitas vezes vamos transmitir um jogo num lugar onde não há espaço para nós. Então, subimos num telhado qualquer ou em algum lugar onde dá para ver o jogo. A narração é feita de lá há metros de distância do campo. Isso não é problema, pois é a nossa mania”. O trabalho nos campos de várzea são repletos de histórias e desafios constantes que parecem apenas incentivar a equipe da rádio.
J. Alves enfatiza que não é fácil trabalhar. Por outro lado, a equipe tem um apoio maior já que todos ajudam e os ouvintes estão logo ali. A comunidade se mobiliza para ajudar. “Ali você não é mais um, você é da rádio!”. Se o jogo acontece numa região muito pobre onde não existe linha telefônica, os moradores fazem ‘vaquinha’ para pagar uma espécie de aluguel da linha de alguém para que seja possível a transmissão. No entanto, nem tudo é tão fácil.
Os olhos se arregalam. As mãos vão em direção aos cabelos e a cabeça é jogada para trás levando o olhar ao teto. “Na várzea é o bumba meu boi”. A falta de estrutura permite que eles tomem chuva na cabeça e bolada na cara, mas enquanto uns jogam, eles driblam algo mais complicado do que a bola. Os jogadores e a torcida. As agressões entre torcedores são constantes e intensas. Durante os jogos todos se xingam muito, independente de quem estiver ali.
Todos são iguais no campo, seja ele traficante ou pai de família. “Eles jogam como se fosse final de campeonato. Correm, brigam pela bola, mesmo com os campos cheios de buracos. Os jogadores se arrebentam e nem ganham para isso, pelo contrário, muitas vezes pagam pelo campo e uniforme”. Mas isso não importa, já que eles estão ali por amor e prazer. “Tem cara que trabalha a madrugada toda, sai do trabalho e vem direto para o campo”.
Próximo e último capítulo e próxima foto nesta terça, dia 22.
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