sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Copa Kaiser

2º Rodada das oitavas-de-final (30/09/07)


Essa fase é dividida em quatro grupos de quatro times que jogam entre si. O campeão e o vice de cada grupo passarão para a próxima fase da competição.

ARENA KAISER

12:00 - Leões da Geolândia/V.Medeiros x GE Lagoinha/V.Maria (Grupo-3)

BURGO

13:00 - Entre Amigos FC/V.Progresso x Grêmio Botafogo FC/Guaianases (Grupo-1)

RIACHUELO

13:00 - AE Nós Travamos/Jd.Tupi x GR AG Madeira/Brás (Grupo-1)

FLAMENGO

13:00 - EC Ajax/V.Rica x Falcão Dourado FC/Pq.Dorotéia (Grupo-2)

CAJU

11:45 - Ass.Piratininga/3ª Divisão x AA Alvorada/Jaraguá (Grupo-2)

13:15 - GDR Danúbio/Freg.do Ó x EC Vida Loka/V.Brasilândia (Grupo-4)

JAÚ

13:00 - EC Nápoli/V.Industrial x Geavi/Pq.Edu Chaves (Grupo-3)

BENFICA

13:00 - AE Sedex/Cid.Tiradentes x GR Jardim das Palmas/C.Limpo (Grupo-4)

Ser goleiro fora de casa é...

Esse é o primeiro de muitos contos que vou dividir com você a respeito do mundo paralelo do futebol de várzea. Uma prática que mobiliza moradores de um bairro e que faz do domingo o dia sagrado dos boleiros de plantão.

A idéia surgiu numa discussão minha com mais três amigos jornalistas e daí, vai nascer um novo documentário sobre o mundo da bola: o Contos da Várzea. Então, como estamos em intensa produção, a cada nova boa história, vou documentar aqui, nesse nosso espaço de bate papo e reflexão do futebol.

Essa eu escutei de um amigo radialista, mas como não perguntei pra ele se posso falar o nome, vou usar um apelido fictício. Zezão, o goleiro prometido!

A situação era simples e, pra quem joga várzea, bem natural. Uma final no campo do time adversário. O cenário, já viu né?!? Casas de alvenaria contornavam o campo de terra batida. Num dos lados, aquele alambrada mal acabado onde o lateral esfola o braço sempre que passa na corrida.

Jogo duro os dois tempos e o juiz fez que fez pra roubar pro time da casa, mas não deu certo. Fim de jogo sem gols e decisão nos pênaltis. Torcida xingando, pressão nos olhares. O goleiro Zezão estava satisfeito com as boas defesas durante o verdadeiro duelo. Valia mais que o churrasco e a cerveja. Valia moral entre alguns envolvidos no bairro. Coisa de cachorro grande.

Primeiro chute dos donos do campo. Zezão vai para o gol, reza, benze as traves, beija as luvas. Mesmo pedindo tanta proteção eis que surge um cara bem mal encarado, que não era do time da casa, mas que era da casa, entendeu?

- Aí goleirinho maluco. O negócio é o seguinte. Ta vendo um maluco no alambrado olhando pra você?

Era tanta gente que Zezão não sabe se viu, mas fez que viu. E o mal encarado continuou:

- Então, ele tem uma menininha na cintura. Se você defender um pênalti, ele vai apresentar você pra ela, certo?

E Zezão, trêmulo, sem falar nada, só fez positivo com a cabeça. Na cabeça, a preocupação de como deixar a bola passar, porque pra ele era mais difícil deixar deixar o gol - sem ninguém perceber que foi de propósito - do que defender a batida. E ele só imaginava o brilho da tal menininhacuspidora de balas apontada praa ele se defendesse alguma bola..

Primeiro chute, ele esperou a bola ser chutada e pulou pro outro canto. Gol! E os amigos do time reclamaram:

- Pô Zezão, vai com moleza assim na bola? Ta de bruncadeira? Você defende pra caramba mano! Vamos defender isso aí, pô!

Hora do seu time bater. Zezão torcia pra que todos errassem. Ele não queria ser responsabilizado por nada e nem ser apresentado à menininha nenhuma. Só que os jogadores batiam bem, não erravam um pênalti sequer.

De volta ao gol, mesmo esquema. Pára, chuta, olha, pula pro outro lado, gol. Ufa! Escutava poucas e boas dos seus amigos. Só que o olhar estava no mal encarado que, do alambrado, olha feio pra ele. Assim foi até as últimas cobranças. Zezão, pressionado pelos companheiros decidiu escolher canto. Tava muito na cara que ele deixava passar. Ou ele era apresentado para menininha ou seria esfolado pelos amigos no fim do jogo.

Ele olhou para o jogador, fechou os olhos e escolheu um canto. Como câmera lenta, sentiu algo bater nas mãos. Tinha que ser a trave, mas os gritos dos jogadores do seu time anunciavam a... a cagada.

- Aêê Zezão, linda defesa mano! Você é o melhor! Chuuupa Chuupaa!! Defezaça!

Zezão tentava acalmar a euforia dos amigos, que além de gritarem como loucos, ainda mostravam o dedo pro adversário e pra toda a torcida. O coitado do goleiro estava suando frio, já pensando na cor do seu caixão para logo mais.

Último chute dos donos da casa. De fora, o mal encarado tinha cara mais feia de todas. Zezão embaixo da trave mais uma vez. Se pegasse de novo era fim de jogo e título garantido. Se deixasse passar, tudo ia continuar. Parado Zezão decidiu ficar onde estava. No meio do gol com os braços abertos. O adversário olhava pra ele fulminante. Tomou distância, correu e chutou com força.

Zezão quase caiu no chão, a bola batera bem no peito. Uma bela medalhada e era o fim. Zezão campeão. Gritaria de comemoração. Zezão não sabia se a dor no peito era da bolada e se tinha sido apresentado para a menininha. Meio a festa, Zezão pedia calma pra rapaziada, que não adiantava em nada, e tentava ver onde estava o futuro matador.

Do meio da multidão, o mal encarado apareceu. Já gelado, Zezão só esperou. Cara a cara, olho a olho. Aliás, os dois bem vermelhos. O mal encarado, sangue nos olhos. Zezão, quase chorando quando ouviu:

- Ai maluco, seguinte. Fica tranqüilo, mano. Meu time não representou certo?!? Vou rolar uma idéia com o treinador e dá uma dura nos cara que não sabem nem bater um pênalti. Vai na paz e parabéns aí, mano!

Coisas que só o Contos da Várzea traz pra você!

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Parabéns radialista varzeano!

Para esta data especial (25 de setembro, dia do radialista), relato uma que, com certeza, vai estar nas telas do Contos da Várzea. Era um sábado bom pra gravar. Muito calor. Tanto sol que a terra laranja do campo ficava amarela da luz. Nosso personagem estava no Sete de Setembro da Freguesia do Ó. Ó? Lá na Zona Oeste, manja?

Chegando no campo, uma voz fazia-se ouvir pelo clube. Rádio? Que nada. Um locutor ao vivo. Ao vivo, mesmo! Antes do jogo, simples. Chegava nos treinadores dos times e:

- Passem a escalação e número das camisas, por favor?

Assim mesmo, com muita educaçao e discrição. É, isso, discreto! E aí, ficava na beira do campo, na linha de lateral. Ora apagava a linha já gasta, ora tropeçava no próprio fio do microfone. É rapaz, tinha microfone e alto-falante. Todo o Sete de Setembro escutava a narração empolgante daquele radialista anônimo. Daquele radialista varzeano!

Às vezes você olhava a movimentação do locutor e percebia que trocava o tempo todo de lugar com o banderinha. E quantas vezes eles se trombavam? Nenhuma! Acredita? A sincronia era quase cerebral. Claro! Um olhava para o campo - e se marcasse errado a torcida ia xingar muito - e o outro de olho na escalação - digamos, pelo mesmo motivo, porque falar o nome errado podia causar-lhe problemas. E aconteceu!

Quem é o 22?
Substituição no segundo tempo e uma troca no time do Lauzane Paulista. Sai o 10, João da Silva, entra o 22... o digníssimo... que vem com a camisa 22... o craque de bola... a esperança de gol... que entrava no campo, mas que esqueceu de entrar na lista das mãos do locutor.

- Daqui a pouco eu confirmo o número 22 pra vocês. Campo Sete de Setembro, comemorando aniversário neste que faz parte da história do futebol de várzea da Cidade de São Paulo.

O público do clube espera a confirmação do camisa 22 até hoje.

domingo, 23 de setembro de 2007

A poeira que sobe do chão de terra vermelha esconde mais que lances, camisas ou jogadas de gol. Esconde medos, sonhos, decepções, tristezas...

Esconde sábados e domingos perdidos em troca de viagens, concentrações, promessas, discussões com a mãe, que insistia que o único filho deveria era logo arrumar um emprego, pois a despensa já fazia eco pela falta do arroz, feijão e mistura.

E a barba crescida já denunciava que o menino já se tornara homem, mas ainda dormia com a bola ao lado...

A poeira da Várzea esconde manhãs de domingo, que diferente da semana cinza, ainda sobrava algumas moedas, e que com elas o menino corria para a primeira banca de jornal para comprar figurinhas Panini. Com mesma rapidez, voltava-se para o rádio. Ouvia Milton Neves no Plantão de Domingo contar histórias de grandes craques, que também “nasceram da terra”. Como ele queria nascer.

E lá, com o álbum de fotos pequenas, e com olhos grandes, se via jogando para a Fiel inteira assistir. Num Palmeiras e Corinthians com o Pacaembu lotado, em final de Paulistão. Ôh, sonho.

A poeira encarde sorriso feliz de tio orgulhoso. Aquele que vendeu a CG 500 só para trazer o menino, que era só uma promessa, para tentar a sorte na capital. Esconde treinador de final de semana, que troca a gravata e o terno pelo “puta que o pariu, Vandeco”. É uma quase uma poesia, não?!? Drummond, talvez.

Mas a poeira que sobe na várzea esconde também muitas frustrações. Do menino inexperiente, sonhador, explorado por gente gananciosa que o prometeu a “10” do Flamengo, quando não tinha capacidade de nem ao menos dar um par de ingressos para o próximo jogo do campeonato do bairro.

Esconde filho rancoroso, que só perdoou o pai depois do ataque fulminante de coração. Senhor daqueles embriagados de sexta à noite, a quem a cachaça derrubou na esquina de casa, impedindo que o filho, craque de bola, fizesse a tão sonhada peneira no São Paulo. Naquela manhã de sábado, o menino ainda era criança. Nem ônibus sabia pegar...

A poeira da várzea, a mim, parece triste. Não é balé, mas tango. Cadente. Reflexivo. Sofrido. Parece com as tardes de domingo. Aquelas com sol avermelhado ao fundo, cujos raios dizem aos meninos, que já trabalham como homens, que o dia acabou, e que é hora de descansar um pouco, pois a segunda-feira já vem aí.

A vida sofrida, longe da manchete dos diários esportivos, deve continuar. Com ônibus cheio, patrão estúpido, salário baixo...

PS: Este texto é dedicado ao repórter esportivo Mario Balla, que desde quinta-feira resolveu transmitir os jogos do verdão lá do Céu. Sem Debate Bola, ele agora abrirá as cortinas deste espetáculo chamado futebol ao lado de Fiori Gigliotti. Que assim seja, então.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O Ciclo da Várzea

"O futebol de várzea é um lugar onde o morador do bairro é reconhecido socialmente", Jornalista Cid Barboza

Infelizmente, a única certeza que temos na vida é a morte. E todos nós sabemos como funciona esse triste ciclo. Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Com o jogador de futebol não é diferente. Atrevo-me dizer que é até pior. Explicarei melhor ao longo de minha explanação. Isso acontece com a maioria dos jogadores nascidos na Várzea. Muitos são descobertos jogando em campo de terra batida, suando a camisa pelos times varzeanos em seus bairros. Pois bem, são descobertos. Alguns vão para times de ponta e viram ídolos, outros vão para times modestos e não alcançam a fama, o estrelato e tudo mais. Entretanto, uma coisa eles têm em comum. O mesmo destino após a curta carreira de jogador de futebol. Todos, sem exceção, voltam a jogar na várzea. É um vício que não largam. Talvez para amenizar a dor de tempos atrás, quando entravam em campo e eram ovacionados. Uns para o bem, outros hostilizados, mas ovacionados. Umas das coisas que percebi durante a gravação do “Contos da Várzea”, é que o ciclo da vida para eles é muito mais cruel, pois jogador de futebol morre duas vezes. Quando para de jogar e quando é posto dentro do caixão. Esse é o ciclo da Várzea.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Primeiro Chute

Sem redundância ao texto anterior, por favor! O título dessa segunda publicação remete (engraçado, né?) à leitura do primeiro livro do escritor, professor de língua portuguesa e ex-jogador de várzea da Vila Maria, algures da Zona Norte paulistana. Ah é. Seu nome: Walter Scott Vicentini.

"O primeiro chute dei-o no útero de minha mãe. Foi de bico e ela sentiu."

O Primeiro Chute - Essa várzea hilariante

Nosso querido amigo Walter, 75, com quem estivemos num fim de semana, na sua casa que o abriga há mais de quarenta anos, é o primeiro da esquerda para direita, o mais baixinho dos irmãos. "Gorrinhos da moda, calções 'pula brejo' e dedão no chão".

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Pontapé inicial

O futebol de várzea morreu? Responder a essa pergunta não é simplesmente dizer “sim” ou “não”. A várzea ainda pulsa forte no coração de milhares de abnegados e sobrevive com muita paixão e luta, mesmo nessa megalópole endurecida e castigada pelo crescimento urbano. Como bem sabemos, o futebol é extremamente representativo na vida do brasileiro. Milhões de torcedores fanáticos apanham panelas vazias em suas casas para batucar a vitória do seu time. Muitos gastam o dinheiro do pão de amanhã para sufocar o peito nas gerais dos estádios de todo o País.


Contos da Várzea nasceu, de fato, para mostrar como o futebol amador tem a capacidade de contagiar as pessoas e envolvê-las em um universo único. Os campos de terra batida que ainda restam em São Paulo são fábricas de memórias, relações, romantismo, saudosismo e muita história. A precariedade aqui não é a discussão central, mais sim a interação dos personagens junto a essa atividade FAS-CI-NAN-TE. As chuteiras desdentadas pouco importam, também não interessa se a bola vai rolar no mais esburacado campo de linhas tortas e traves improvisadas com par de chinelos. Via de regra o brasileiro joga em qualquer lugar, na praia, no asfalto, no quintal ou em qualquer outro espaço igualmente democrático.

A questão aqui também não é de vida ou morte, é muito mais que isso. O brasileiro joga porque precisa jogar. Precisa vingar sua falta de oportunidade empurrando a bola para as redes. Sentir o suor escorrendo na camisa dez sob o sol do meio-dia. Livrar-se das agruras de uma semana atormentada pela pressão e pelo insucesso do cotidiano. Quem disse que futebol não é lugar para a afirmação social? O jogo é jogado para manter acessa a chama do sonho. Sim. Isso mesmo. Sonho! O futebol é o jardim dos sonhos no país da corrupção, no paraíso do desemprego, na ânsia do orgulho nacional. Sonho. Sonho. Sonho. Sonho de ascensão social, sonho de sociabilidade e sonho de fama, gol e estádio gritando.


Isso é Contos da Várzea... Os personagens que decidam por si o rumo desse sonho!