domingo, 25 de novembro de 2007

A Várzea - Capítulo 3

Por William Ferreira Cassemiro


Na várzea
O homem respondeu, meio sem jeito pela abordagem nada discreta - É... Sou eu sim!
- 62... 63... Meia do... do... do Quinze? – Ademar perguntou e pôs as mãos sobre a cabeça.
- Eu mesmo, o tempo judia da gente... Mas sou eu. – o homem continuava desconfortável, Ademar tinha o “dom” de fazer com que as pessoas ficassem sem graça.
- Rapaz, judia dos outros... Você ainda tá bem. Esse é seu filho? – Ademar apontou para o rapaz que estava ao lado do homem.
- Bondade do amigo. Esse é o Jorge, meu vizinho. – respondeu o homem.
- Bondade nada. Ainda ontem eu tava falando aqui pro meu amigo Paulo... – Ademar se virou procurando pelo parceiro e ao ver Paulo na arquibancada, entretido com o jogo, não pensou duas vezes e gritou: - Paulo... Paulo... Corre aqui rapaz!
Paulo obedeceu ao amigo imediatamente, tanto que quase caiu da arquibancada para chegar mais rápido - Pô Ademar, esse time tá muito lento, que que foi? Você conhece mesmo? Eu não falei que você conhecia? – e Paulo sorriu batendo nas costas de Ademar.
- Mas como eu tava falando, ainda ontem eu contei pro meu amigo Paulo aqui: vi muito craque jogando na várzea...
- Falou mesmo. – confirmou Paulo.
- Então Paulo, esse aqui é aquele meia que eu te falei... – disse Ademar já quase abraçando o homem.
- Aquele do... – Paulo coçou a cabeça.
- É... aquele... aquele do Quinze... – Ademar fez um gesto com as mãos mostrando impaciência.
- Aquele? Nossa! Ele falou muito... O senhor é um craque!!! – a empolgação de Paulo irritou Ademar.
- Que muito nada... falei pouco... Que é assim, né? Se falar tudo o pessoal pensa que é mentira... num é? Olha moço, seu vizinho foi um craque, um craque moço!!! – Ademar começou também a se empolgar.
- É, ele me falou que jogava uma bolinha no fim de semana. – disse Jorge.
- É... é verdade, falei mesmo... – confirmou o homem.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A Várzea - Capítulo 2

Por William Ferreira Cassemiro

Na várzea
- Que cara? O de azul?
- Não porra, aquele... – disse Ademar batendo com força a mão na coxa e apontando – aquele... junto com o outro...
- Junto com o outro? – Paulo se levantou para procurar melhor – Ah tá... aquele com o outro... que que tem? – ainda sem saber de quem Ademar falava.
- Acho que conheço ele. – e coçou a cabeça.
- Ah... você conhece todo mundo. Eu nunca vi homem pra conhecer mais gente do que você! – Paulo disse, tentando voltar a prestar atenção ao jogo.
- Quer saber? Vou lá ver se é quem eu estou pensando... – Ademar se levantou com certa dificuldade e foi descendo de encontro aos homens junto ao alambrado. Um deles, o mais velho, aparentava ter seus 60 anos, magro, quase calvo, olhava o jogo com tanta atenção que nem percebeu quando Ademar o chamou:
- Ei... Você não é... o... o... – nenhuma resposta, somente quando Ademar conseguiu tocar em seu ombro esquerdo foi que o homem respondeu:
- Que foi? – disse o homem virando rápido a cabeça em direção a Ademar.
- Não acredito... É você mesmo? – Ademar forçou um pouco a vista.
O homem respondeu, meio sem jeito pela abordagem nada discreta - É... Sou eu sim!

williamcassemiro@globo.com



Não perca o terceiro capítulo, neste domingo!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Conta, por W.Cassemiro

A Várzea - Capítulo 1


Esse é o seu espaço. William escreveu sua história e mandou para gente. Durante 5 capítulos, Will vai ter seu conto postado no Contos da Várzea.

Manda ver Will!



Por William Ferreira Cassemiro
36 anos, casado, pai de 2 filhas adolescentes. Formado em eletrônica e estudante de Letras na USP. Escrevo há pouco tempo e isso certamente foi influenciado pelas leituras, principalmente Hemingway, que sempre adorei. Feedback:
williamcassemiro@globo.com


Na várzea
Toda manhã de domingo, com chuva ou sol, todos sabiam, principalmente os jogadores e técnicos, que aquela dupla estaria no mesmo lugar: o lado esquerdo da pequena arquibancada coberta do campo de várzea do bairro. Era um ritual: chegavam caminhando lentamente, pois Ademar e seu peso ideal não se viam há muito tempo, como ele gostava de dizer. Paulo era uns 30 anos e 50 quilos mais jovem. Passavam pelo bar, Ademar reclamava do cheiro do lixo e do banheiro com quem estivesse por perto, pegavam a primeira cerveja, os saquinhos de amendoins e subiam às arquibancadas. A amizade dos dois era algo intrigante. Pareciam, mas não eram, pai e filho. Não que Ademar fosse muito atencioso com Paulo: poucas foram as vezes que demonstrara algum apreço, não apenas pelo amigo, mas com qualquer pessoa. Alguns estranhavam como Ademar o tratava, como se estivesse falando com uma criança, mas mesmo assim, por menos delicado que ele fosse, os dois sempre estavam juntos: Ademar contando histórias e Paulo confirmando as opiniões do ranzinza. Os jogadores, além do amigo capacho, também sofriam. Qualquer falha era motivo de sobra para Ademar esbravejar, ninguém era poupado, ele sempre sabia como é que o jogador devia ter feito para resolver o lance da melhor forma, e sempre emendava:


- Hoje só tem pereba na várzea, que saudade dos anos 60! Ainda bem que tenho uma boa memória! Não esqueço nada Paulo, nada!!!
- É verdade, invejo sua memória! – confirmava o amigo.


Naquele domingo o ritual se repetiu, mas alguma coisa chamava a atenção de Ademar e ele não prestava atenção ao jogo. Alguns dos jogadores estranhavam a ausência de seus berros e olhavam para o cantinho da arquibancada, sempre que possível, para ver se ele estava mesmo lá. Paulo, como sempre um pouco lento de raciocínio, demorou a se dar conta de que seu amigo olhava constantemente para uma dupla que assistia ao jogo junto ao alambrado, uns 20 metros à direita de onde estavam.


- Paulo, – chamou Ademar coçando a cabeça – olha aquele cara ali.
- Que cara? O de azul?
- Não porra, aquele... – disse Ademar batendo com força a mão na coxa e apontando – aquele... junto com o outro...



Capítulo 2 ainda nesta semana. Não perca!

domingo, 18 de novembro de 2007

A chapa esquenta no Capão!

Esse é o Treme-Terra no calor da batalha!


Capão Redondo, meio-dia. O sol forte empresta tons amarelados a terra batida.

No vestiário não há chuveiro. Na beira do campo a torcida soa descamisada.

Esse é o primeiro Torneio do Parque Independência.

Contos da Várzea esteve

lá no extremo sul da zona sul para acompanhar mais um domingo de muita bola rolando.

Em campo somente as melhores equipes da região.

A Chapa Esquentou e a poeira subiu!

Mas, a maior surpresa está prevista para a próxima rodada.

Os principais rivais da "quebrada", Parados e Treme-Terra vão se enfrentar num duelo de Titãs.

Que rufem os tambores! Preparem o coração... Vamos contar tudo com detalhes no dia 02 de dezembro!

Não percam!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Árbitro leva "Voadora"

Numa noite dessas, olhando recados no orkut, e recebi um recado de Eduardo. Ele me mostrou uma nota que saiu no seu site com a seguinte chamada: Aconteceu na várzea. Árbitro manda repetir penalidade e leva “voadora”
Eduardo Gouvea viu, fotografou e nos contou.

"Vamos lá. Isso aconteceu ano passado. Acho que foi no dia 28 de novembro. Era a final da terceira divisão (isso mesmo terceira) do campeonato varzeano de Votorantim. Eu estava fotografando a comemoração do outro time, quando vi esse maluco passar correndo na minha frente.
Só deu tempo de virar a camera para onde ele estava e bater a foto, só quando cheguei em casa fui de fato ver o lance. Os dois times já estavam classificados para a segunda deste ano. Esse jogador já havia sido expulso no tempo normal e estava do outro lado do muro enchendo o saco.

Como o jogo no tempo normal terminou 2 a 2, a decisão foi para os pênaltis e o arbitro mandou voltar algumas cobranças porque os goleiros se adiantavam. Sendo assim o goleiro do Celtic (que é o time do maluco que deu a voadora) defendeu a ultima cobrança do CDHU – o que lhe daria o título – mas o árbitro mandou voltar, alegando que o goleiro tinha se adiantado.

Pois bem, a nova cobrança foi convertida e o Celtic acabou perdendo sua penalidade seguinte, o que eu o título para o CDHU. Após isso, ocorreu o fato mostrado na foto.

A PM teve que entrar no meio, daí viu-se de tudo, até um cara avançando com uma moto para cima dos policiais e uma mulher que foi apartar a briga acabou tomando uma borrachada (segundo dizem os que estavam no meio). Sei que no final das contas todo mundo foi parar na delega. Tem outras histórias loucas daqui da época em que eu cobria várzea. Já até "participei" de uma briga".

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Drible da vaca... ou na vaca?

Essa aconteceu em setembro de 2005 pros lados de Pirajussara, pra lá do bairro do Campo Limpo, próximo ao município de Taboão da Serra. Quem me contou foi Rogério, o goleiro, e são paulino, mas não o Ceni. No meio da braquelada (foto).
Seu time era a Agremiação Desportiva Jardim Paulistano.
A partida acontecia no meio de um verdadeiro pasto. "A gente driblava todo mundo. Dava chapéu no adversário e jogava debaixo das botas da vaca".

Resultado final: empate em 1 a 1 com gol de Fernando (foto). Aos 40 do segundo tempo, de cabeça, subindo mais que a defesa! Golaço!

Várzea com vacas é muuuuuuito interessante! Para Rogério, foi o melhor jogo da sua vida. Goleiro, garante ter sido um dos heróis da partida. E segue a narração:

O atacante deixou um dos zagueiros do paulistano para trás, saiu na cara do gol, chutou e...
Rrrrrrogéééééério!!!!! Com direito direito a deixar o atacante machucado com a dividida.
Noutra. Bola nas costas da zaga e chute rasteiro, no canto, e? Rrrrogéério!

Contos é isso!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Canto do Rio

Um dos principais times de futebol de várzea de São Paulo.
Retirei o texto abaixo - de 2004 - dos arquivos da Universidade Anhembi Morumbi, devidamente creditado.

Canto do Rio preparado para enfrentar juniores do São Paulo F.C.

Tradição do futebol de várzea sobrevive na Vila Olímpia

Fernando Petroni, Luiz Lima e Guilherme Assumpção

Grêmio Desportivo Canto do Rio, situado na Vila Olímpia, mantém a tradição do futebol de várzea e ajuda jovens de baixa renda que buscam oportunidade no concorrido mundo do esporte. O clube, fundado de 1 de janeiro de 1941, recebeu este nome em função de estar localizado entre o rio Pinheiros e um pequeno rio da região, hoje canalizado sob o campo principal do grêmio. Na época, quando perguntavam onde o clube ficava, muitos respondiam "no canto do rio", e a denominação acabou se oficializando.

O sexagenário Canto do Rio já foi um famoso time que teve seu tempo de glória nos anos 60 e 70, quando o futebol de várzea ainda tinha o seu encanto. A realidade hoje em dia, porém, é um pouco diferente. Construído em uma área pública, o clube sobrevive com uma renda anual de R$ 200 mil. Este capital vem do aluguel de um bar, do aluguel de uma quadra de futebol society e uma contribuição feita pelos sócios de R$ 20 por mês. Embora pareça muita, a renda não atende as necessidades do clube.

Leia na íntegra em:

http://www2.anhembi.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=21229&sid=1924

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Domingo é dia de Várzea... na TV

Getty Images
É verdade! Para quem pensou que a várzea não tinha espaço na televisão, estava enganado!

O Canal Aberto (canal 9 NET) transmite Moita, do bairro de Pirituba (Zona Oeste), contra o Titânio, do pessoal do Campo Limpo (Zona Sul), às 17h30.


Isto é, Enquanto estiver acabando o futebol das 16h na Rede Globo, começa a várzea no Canal Aberto. Você não vai perder nenhum jogo, vale a pena conferir!
Anote aí!

Moita (Pirituba) x Titânico (Campo Limpo)
Domingo, dia 11 - às 17h30
Canal Aberto (canal 9 - NET)
Narração: Danilo Almeida

Fique ligado no seu blog varzeano para saber este e outros resultados do futebol amador.

Deixe seu resultado no comentário ou na comunidade Contos da Várzea no Orkut.

Falô aí!

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Chuá Chuá e Canarinho

Salve Boleiros!

Ricardo, 31 anos, está na comunidade Contos da Várzea no orkut e deixou pra gente um trecho da sua história. No perfil do cara, quando você lê esportes, ele preenche assim: FUTEBOL...FUTEBOL...FUTEBOL...FUTEBOL...FUTEBOL...FUTEBOL...FUTEBOL

Quando você vê atividades, olha só: FUTEBOL...FUTEBOL...FUTEBOL...FUTEBOL. Pouco viciado o rapaz! Manda vê Ricardo!


"Desde cedo


Eu morava no interior(Bauru) comecei com o futebol lá, passei pelo Noroeste nas categorias do dente de leite e dentão, então vim para São Paulo pra trampar, foi aí que comecei a jogar na várzea.

Já nos meus 13 pra 14 anos já jogava um pouquinho quando deixavam no extinto 5 de maio (V.Esperança-Penha). Joguei lá por uns 5 anos, jogávamos aos sábados e, de domingo, eu jogava num time lá de Itaquera que não me recordo o nome.

Só que antes da maioridade, voltei pra Bauru e lá também atuei em 3 times: Fortaleza, XV da Santa Edwirges e num time formado por nós do trampo. Quando completei 28 anos (10 anos após) voltei pra São Paulo e não foi diferente. Mais já agora sem o extinto 5 de maio, eu jogo pelo Chua-Chua (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=18424739 ) que são antigos integrantes do 5 de maio. Eles jogam de 15 em 15 dias aos sábados pela manhã, no período da tarde jogo em Santo André pelo N.Horizonte (ótimo time) e de domingo jogo no Canarinho (http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=33556546), outro time bom demais. Isso é na varzea né, pois de terça jogo campo (grama sintética na Z/N) quarta socyte, sexta salão... .
Ahh, ia me esquecendo! Quando o time Só Quem É marca jogo to dentro é la do Mandaqui...
Valeu galera"
Valeu você Ricardo!
Pra quem quiser postar seu conto neste Blog varzeano, participe da comundidade
Contos da Várzea no orkut
Deixe seu comentário lá, que a gente manda pra cá!
A gente se tromba num terrão por aí, num domingo desses!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

5 de novembro: Dia do Contos

Diego, Rafa, Renato e Tony

Estreou! Isso! No último dia 5, uma segunda-feira de chuva fina, o mini-auditório da Universidade de Santo Amaro - zona sul paulistana - recebeu os quatro integrantes do Contos da Várzea. Foi o dia em que profissionais da comunicação e mais de 50 futuros jornalistas assistiram ao primeiro filme 100% dedicado ao futebol amador varzeano. Imagina! Era dia de cinema nacional por 2 reais em várias importantes salas do cinema na cidade. E muita gente preferiu ver esse tal Contos da Várzea. É, com tênis sujo de terra laranja mesmo!

Contos da Várzea: Por que na periferia?
Esse sou eu, no começo do argumento.
Uma foto que representa bastante o sentido do nosso trabalho.
O desenvolvimento da cidade de São Paulo começou, e os prédios subiram sem parar. O subdesenvolvimento da várzea começou, e os campos começaram a sumir.
As periferias receberam por último a modernidade. A várzea procurava pessoas que queriam um espaço de convívio social. Casamento perfeito!

Aprovados!
Ok! Argumento feito. Filme exibido. Aplausos!
O G8 Sports agradece a presença de amigos e familiares que estiveram presentes e que sempre nos apoiaram em todo processo de produção.
Projeto APROVADO!
Valeu a todos, de coração!

domingo, 4 de novembro de 2007

Que conta um conto...


E o Contos da Várzea está pronto. Teve até pré-estréia na casa do Diego (rsrs). A sala lotada com, certamente, as pessoas mais importantes de nossas vidas lá presentes. As demais, tão importantes quanto, estavam em casa. Dormindo. Cansadas do trabalho da semana, ou de quase uma vida inteira de trabalho (os avós do Rafa, por exemplo) certamente não suportariam até às 2h30 da manhã para ver a sala escurecer. Na TV, quase um ano de trabalho...e curtiram. Como curtiram. Fotos da edição do Contos da Várzea.