Esse é o seu espaço. William escreveu sua história e mandou para gente. Durante 5 capítulos, Will vai ter seu conto postado no Contos da Várzea.
Manda ver Will!
Por William Ferreira Cassemiro
36 anos, casado, pai de 2 filhas adolescentes. Formado em eletrônica e estudante de Letras na USP. Escrevo há pouco tempo e isso certamente foi influenciado pelas leituras, principalmente Hemingway, que sempre adorei. Feedback: williamcassemiro@globo.com
Na várzea
Toda manhã de domingo, com chuva ou sol, todos sabiam, principalmente os jogadores e técnicos, que aquela dupla estaria no mesmo lugar: o lado esquerdo da pequena arquibancada coberta do campo de várzea do bairro. Era um ritual: chegavam caminhando lentamente, pois Ademar e seu peso ideal não se viam há muito tempo, como ele gostava de dizer. Paulo era uns 30 anos e 50 quilos mais jovem. Passavam pelo bar, Ademar reclamava do cheiro do lixo e do banheiro com quem estivesse por perto, pegavam a primeira cerveja, os saquinhos de amendoins e subiam às arquibancadas. A amizade dos dois era algo intrigante. Pareciam, mas não eram, pai e filho. Não que Ademar fosse muito atencioso com Paulo: poucas foram as vezes que demonstrara algum apreço, não apenas pelo amigo, mas com qualquer pessoa. Alguns estranhavam como Ademar o tratava, como se estivesse falando com uma criança, mas mesmo assim, por menos delicado que ele fosse, os dois sempre estavam juntos: Ademar contando histórias e Paulo confirmando as opiniões do ranzinza. Os jogadores, além do amigo capacho, também sofriam. Qualquer falha era motivo de sobra para Ademar esbravejar, ninguém era poupado, ele sempre sabia como é que o jogador devia ter feito para resolver o lance da melhor forma, e sempre emendava:
- Hoje só tem pereba na várzea, que saudade dos anos 60! Ainda bem que tenho uma boa memória! Não esqueço nada Paulo, nada!!!
- É verdade, invejo sua memória! – confirmava o amigo.
Naquele domingo o ritual se repetiu, mas alguma coisa chamava a atenção de Ademar e ele não prestava atenção ao jogo. Alguns dos jogadores estranhavam a ausência de seus berros e olhavam para o cantinho da arquibancada, sempre que possível, para ver se ele estava mesmo lá. Paulo, como sempre um pouco lento de raciocínio, demorou a se dar conta de que seu amigo olhava constantemente para uma dupla que assistia ao jogo junto ao alambrado, uns 20 metros à direita de onde estavam.
- Paulo, – chamou Ademar coçando a cabeça – olha aquele cara ali.
- Que cara? O de azul?
- Não porra, aquele... – disse Ademar batendo com força a mão na coxa e apontando – aquele... junto com o outro...
Capítulo 2 ainda nesta semana. Não perca!
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