domingo, 13 de janeiro de 2008

Psicológico ganha jogo sim!

Ontém reencontrei os velhos e bons amigos da várzea. Ah que saudades da mesa de bar, daquele papo boleiro. Saudade da loirinha gelada que ajuda a refrescar a "cuca" e relembrar célebres histórias. Idéia vai e idéia vem, eis que que surge o velho lobo Oswaldo. Oswaldo é uma espécie de professor pardal da Várzea. Melhor. Uma mescla com relampejos de Luxemburgo e Muricy do terrão. Saudoso, sorriso sempre aberto, seus óculos dão um tom de seriedade ao seu status de "professor" da bola no bairro. Certo momento não me contive e emendei sem vacilar. "Conte aquela lá". "Claro garoto", respondeu empolgado com o interesse. Lá vai:

Foi lá no Parque Arariba (Zona Sul) que o bicho pegou. Éramos um grande time aqui do bairro, mas estávamos apenas no começo. Quase ninguém conhecia. Fomos chamados para jogar contra o time local. Quando estava marcando o jogo com o técnico adversário senti na pele a arrogãncia do cara. "Traz um time bom. Se não trouxer vai ficar feio, pois o nosso time é imbatível", provocou. Como eu nunca fui de engolir intimidações retruquei. "O que o seu time tem que os outros não tem?". "Só tem profissional meu amigo", respondeu olhando com pena para os meus jogadores de uniforme surrado. Resolvi entrar no jogo psicológico dele e tratei de ironizar. "Meu time também só tem profissional. Meu goleiro é operador de máquina, aquele zagueiro e o volante são carpinteiros e o centroavante faz um hot dog sem igual no Largo Treze". Furioso o sujeito exclamou. "Vamos ao jogo".

Um jogo tenso, zero a zero nervoso. Percebi que um dos zagueiros do time adversário insistia no chutão para frente. O pior é que nada passava. O cara era intrasponível. Vou mexer com esse sujeito, pensei. Certa altura do jogo a bola subiu e veio em minha direção. Levantei-me do banco de reservas, matei a bola no peito e coloquei-a no chão com a classe de um cavalheiro inglês. Olhei para o zagueiro com desprezo. "Aprende comigo".

E não é que tentou? O lance que decidiu a partida ocorreu quando o volante do meu time errou um lançamento. A bola foi em direção ao zagueirão. Lá vem mais um chutão, pensei. Mas o cidadão era orgulhoso demais para não arriscar. Para a minha surpresa o brucutu estufou o peito como um gavião imponente para amortecer a bola. Mas a classe não era seu forte. Bola espirrada no pé do atacante e.um a zero no placar. No banco eu chorando de dar risada. Aproveitei o momento. "Não aprendeu nada né?". Desmoralizado o zagueiro sumiu do jogo e meu time goleou: quatro a um no placar.

Desse jogo só levo uma lembrança ruím. Certo da vitória, o time adversário armou uma festa com direito a cerveja e churrasco a valer, após o jogo. Como nem tudo é perfeito e nem todo mundo sabe perder, a festa foi cancelada e nós fomos hostilizados como jamais ocorreu em outro campo. Resultado: saímos sem provar o paladar da carne e o aroma da cerveja, mas saboreamos como nunca o gostinho da vitória sobre a soberba.

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