
Contudo, a bola falou mais alto. Foi num domingo ensolarado, num campo desdentado da Parada Inglesa, que o Senhor Santos viu, pela primeira vez, Djalma hipnotizar a bola pela faixa lateral de campo. Depois de alguns toques do talentoso primogênito, o velho se rendeu: “Djalma nasceu para ser jogador de futebol”.
Na época, o garoto fez testes no Ypiranga e no Corinthians, mas os horários dos treinos eram incompatíveis com o de seu trabalho como sapateiro. Acabou ficando mesmo na romântica Portuguesa do Canindé, ainda assim, porque o seu patrão concordou que ele trabalhasse à noite, para compensar as horas perdidas no clube.
Depois de uma década gloriosa na Portuguesa, foi para o poderoso Palmeiras, onde também fez história. Na seleção, na copa de 1958, disputada na Suécia, atuou somente uma partida, justamente a final contra os donos da casa. Foi o suficiente para se tornar o melhor lateral-direito do mundial. Mas não foi somente isso, as atuações do mestre com a camisa verde amarela fizeram com que seu nome figurasse, até os dias de hoje, entre os melhores jogadores de todos os tempos.

Várias vezes, Djalma Santos – o ala que anulou o sueco Skolund, o melhor ponta dessa Copa do Mundo – foi vítima de racismo. Certa vez, em um estádio paulista, alguém o xingou de crioulo sujo. E, quando ele fazia um arremesso manual, o mesmo cretino que o esculhambava lhe atirou algo, e ao fazê-lo, sem querer, também sacudiu junto um anel, que caiu no gramado. Sereno, Djalma recolheu a peça, foi ao alambrado, entregou-a ao racista e disse sorrindo um elegante “tudo bem”.