terça-feira, 30 de outubro de 2007

Duas lições da várzea; coragem e humildade!

O domingo foi literalmente quente para a várzea da zona sul. No bonito e atípico campo do campestre, próximo à divisa de São Paulo com Itapecerica da Serra, aconteceu um verdadeiro duelo de Titãs. Fumaça azul na entrada do favorito Parados do Parque Independência, na camisa os dizeres “tudo com nós” indicavam a confiança no triunfo. Mas existia ali um adversário espinhoso e catimbeiro, empurrado pela numerosa e barulhenta torcida do Cosmos do Parque Fernanda, de onde surgiam intermináveis fogos de artifício para intimidar e ensurdecer os jogadores da equipe adversária.

Estava quase tudo pronto para o começo do jogo. Reparem que eu disse quase tudo. Estamos carecas de saber o quanto a várzea é imprevisível, proporciona várias surpresas, então imagine:

São dez e meia da manhã e o sol está a pino castigando sem só os torcedores. Meu relógio avisa que já se passa meia hora do horário marcado para o inicio do jogo e nada do trio de arbitragem aparecer. Também pudera, foram ameaçados de linchamento durante quase toda a competição, quando o jogo valia três pontos, imagine agora valendo caneco. Olho para o campo novamente e avisto duas mulheres vestidas de preto adentrando o campo sob o olhar atônito das dezenas de pessoas ali presentes. Entram com a cara e a coragem nessa fria para salvar o domingo de toda aquela gente. Mulher bandeirando na várzea? Foi isso mesmo que você leu. Ana Paula fez escola, não? Quem acredita que a presença feminina exime o trio de escutar ofensas e represálias está profundamente enganado. Em dado momento uma das assistentes permanece imóvel durante o ataque que culminaria em gol do Cosmos. Resultado? Inconformado, o zagueirão do Parados vem se aproximando e berrando aos cuspes. “Sua P..., sua P... Tava impedido caralho! Você é cega?” Em meio a gritaria do botinudo faltou coragem ao juizão para tirar o vermelho do bolso e mandar o cidadão mas cedo para o chuveiro. Aliás, quem foi mais cedo para o chuveiro não gostou do que viu. “Cabelo” saiu lesionado no primeiro tempo e viu o favoritismo do seu Parados escorrer pelo ralo num jogo para fazer cardíaco passar mal. Obs: Para quem não viu ainda o documentário Contos da Várzea, “Cabelo” é o interprete do “conto do anu”, uma das histórias mais engraçadas contadas pelos personagens varzeanos.

Voltando ao jogo, um outro “entrevistado” teve seu dia de glória. Cassiano, camisa onze, infernizou a zaga adversária com arrancadas e pedaladas rápidas, ainda por cima marcou um gol de pênalti para o seu time. Bem que o Seu Alceu dizia que todo canela fina é bom de bola e olha que veterano sabe das coisas.

Bom... Fim de jogo. Três a dois para o Cosmos no placar. Na torcida sentimentos divididos como sempre. De um lado a torcida que remói a dor da derrota, noutro a festa tradicional com direito a caneco, cerva e churras. Mas quem disse que o Parados abaixa a cabeça? Ainda em campo após a derrota todos os jogadores da equipe cumpriram o ritual de sempre. Rezaram abraçados e depois cantaram a plenos pulmões, com toda a força que restava da dura batalha. “NÓS SAIMOS DO INDÉPE PRA JOGAR! PARA HONRAR O NOSSO TIME DE VALOR! SE GANHAMOS SABEMOS GANHAR! SE PERDEMOS SABEMOS !NÓS SOMOS OS PARADOS ATÉ MORRER!”

Isso é Contos da Várzea!!!!

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