Estava quase tudo pronto para o começo do jogo. Reparem que eu disse quase tudo. Estamos carecas de saber o quanto a várzea é imprevisível, proporciona várias surpresas, então imagine:
São dez e meia da manhã e o sol está a pino castigando sem só os torcedores. Meu relógio avisa que já se passa meia hora do horário marcado para o inicio do jogo e nada do trio de arbitragem aparecer. Também pudera, foram ameaçados de linchamento durante quase toda a competição, quando o jogo valia três pontos, imagine agora valendo caneco. Olho para o campo novamente e avisto duas mulheres vestidas de preto adentrando o campo sob o olhar atônito das dezenas de pessoas ali presentes. Entram com a cara e a coragem nessa fria para salvar o domingo de toda aquela gente. Mulher bandeirando na várzea? Foi isso mesmo que você leu. Ana Paula fez escola, não? Quem acredita que a presença feminina exime o trio de escutar ofensas e represálias está profundamente enganado. Em dado momento uma das assistentes permanece imóvel durante o ataque que culminaria em gol do Cosmos. Resultado? Inconformado, o zagueirão do Parados vem se aproximando e berrando aos cuspes. “Sua P..., sua P... Tava impedido caralho! Você é cega?” Em meio a gritaria do botinudo faltou coragem ao juizão para tirar o vermelho do bolso e mandar o cidadão mas cedo para o chuveiro. Aliás, quem foi mais cedo para o chuveiro não gostou do que viu. “Cabelo” saiu lesionado no primeiro tempo e viu o favoritismo do seu Parados escorrer pelo ralo num jogo para fazer cardíaco passar mal. Obs: Para quem não viu ainda o documentário Contos da Várzea, “Cabelo” é o interprete do “conto do anu”, uma das histórias mais engraçadas contadas pelos personagens varzeanos.
Voltando ao jogo, um outro “entrevistado” teve seu dia de glória. Cassiano, camisa onze, infernizou a zaga adversária com arrancadas e pedaladas rápidas, ainda por cima marcou um gol de pênalti para o seu time. Bem que o Seu Alceu dizia que todo canela fina é bom de bola e olha que veterano sabe das coisas.
Bom... Fim de jogo. Três a dois para o Cosmos no placar. Na torcida sentimentos divididos como sempre. De um lado a torcida que remói a dor da derrota, noutro a festa tradicional com direito a caneco, cerva e churras. Mas quem disse que o Parados abaixa a cabeça? Ainda em campo após a derrota todos os jogadores da equipe cumpriram o ritual de sempre. Rezaram abraçados e depois cantaram a plenos pulmões, com toda a força que restava da dura batalha. “NÓS SAIMOS DO INDÉPE PRA JOGAR! PARA HONRAR O NOSSO TIME DE VALOR! SE GANHAMOS SABEMOS GANHAR! SE PERDEMOS SABEMOS !NÓS SOMOS OS PARADOS ATÉ MORRER!”
Isso é Contos da Várzea!!!!