domingo, 27 de julho de 2008

Frutos do terrão!

Era uma vez...
Oito caras que fizeram de suas vidas uma bola de capotão costurada com fios de esperança e gomos de desejo.
Entre canetas, papéis, copos sujos e cervejas baratas uma pauta viciosa, ininterrupta: o futebol.
Demais editorias tinham somente raros quinze minutos para brilhar entre o primeiro e o segundo tempo das quartas-feiras universitárias.
Numa dessas noites memoráveis, de dupla embriaguez e rara inspiração, sucumbimos ao desejo e nos entregamos á paixão.
Se a vida é espetáculo, o futebol de várzea virou nosso palco.
Um sonho súbito e intenso que deu origem a esse blog. Nasceu então uma vontade incontrolável de reportar as histórias do terrão e, mais que isso, um anseio incontrolável de resgatar o brilhantismo e o amor que deu origem ao esporte mais popular do planeta.

Hoje, graças a Deus e ao carinho de todos vocês, nossa árvore deu frutos:

Jornal – O Varzeano

Programa de rádio – Contos da Várzea

Documentário – Contos da Várzea

sábado, 26 de julho de 2008

Rodrigão, o artilheiro!!!

Pode ser difícil acreditar, mas nós ainda nos surpreendemos com muitas coisas que vimos e escutamos pela várzea. Eu e meu amigo Diego Viñas visitamos durante a semana a sede do Campo Grande, onde joga o time do Grêmio e do Consideração. Lá conhecemos uma figuaraça. O nome dele? Judith.

Leiam esta pequena história que envolve o próprio e seu filho, o Rodrigão, um centro-avante que recebia todo apoio dele.

Judith estava na beira do campo vendo o filho jogar. Ele marcou um gol, Judith pulou de felicidade e prometeu “Aeee, é gol eu pago uma feijoada”! Daí ele marcou mais um “Opaaa.. gol, pago duas feijoadas”, todo feliz! Mais um “Três feijoadas”...

Aí o Wagner, do Consideração, que tava do lado, falou; “Oh Judith, cuidado que se seu filho meter 10 gols você tá ferrado”. E ele começou a ficar preocupado.

De repente, Rodrigo perdeu dois gols feitos. E o Judith gritou “Aííí, menos duas feijoadas”. Logo depois, Rodrigão perdeu mais um. E o Judith solta a pérola: “Pronto, estamos quites, não preciso pagar mais feijoada nenhuma"!!!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Fotos do Brasília do Jardim São Luiz

Estive lá há algumas semanas, conversei com Sr Targino. Fic ana zona sul de São Paulo. Vejam as fotos (por: Diego Viñas)



quarta-feira, 23 de julho de 2008

Sobrenatural!

Nelson Rodrigues imortalizou o Sobrenatural de Almeida. Para quem não conhece a biografia do dramaturgo, Sobrenatural de Almeida era um ente metafísico, fantasmagórico, de outro mundo, que atuava nas partidas épicas no Maracanã e mudava todo a lógica e o placar dos jogos. Todos os lances atípicos eram atribuídos ao seu poder nefasto. Desde um frango do goleiro, ao vento que desvia a trajetória da bola. Sobrenatural sempre me fascinou, mais ainda agora, depois de um sonho tão estranho.
Num boteco da Lapa, extinto reduto da mais linda mistura de intelectualidade e boêmia que o Rio de janeiro já conheceu, eclodiu a discussão. Ali, na mesa de madeira reaproveitada do saudoso boteco, eu e Rodrigues. A pauta era o tal Sobrenatural.
Entre um gole e outro de café expresso, Nelson pergunta:
– Diga lá meu garoto. O que quer saber?
– Bom... Já revirei tua biografia, bisbilhotei tua história e descobri milhares de verdades e mentiras a teu respeito, ainda assim, nada me chamou tanto a atenção quanto a criação do personagem Sobrenatural de Almeida.
– Personagem? – pergunta Nelson assustado.
– Não é? – pergunto confuso.
– Sobrenatural! – berra Nelson.
Detrás da mesa de bilhar surge um sujeito de garbo e elegância, de branco dos pés a cartola.
– Diga lá meu chapa – atende o sujeito, sem ao menos olhar-me.
– Esse jovem repórter quer ouvir tua história.
Atônito e abobado permaneço imóvel sentindo calafrios. O que tinha na cerveja?
Durante 45 segundos fiquei ali, analisando a realidade daquela figura, confrontando-a com as vertigens da mente.
Onde sou? Quem estou eu?
Decidi desencanar. Segue o jogo. Gravador ligado. Fita marcada. Outro gole na cerveja, agora quente e em seguida a primeira pergunta:
– Onde você iniciou sua carreira?
Com olhar malandreado, de quem reacende o passado na memória, ele emenda de primeira, sem vacilar.
– Na várzea.
Meus olhos brilham de fascinação com a resposta, me comovo, sou amante do terrão e estou diante de sua maior estrela.
Mas antes que eu possa tomar fôlego para nova pergunta o barulho ensurdecedor do aparelho despertador esfacela as nuvens dos meus sonhos.
“... Vai trabalhar vagabundo. Vai trabalhar criatura. Deus permite a todo mundo, uma loucura. Passa o domingo em familia. Segunda-feira beleza. Embarca com alegria, na correnteza.”, na voz de Chico, ecoando no velho radinho de pilha.

domingo, 20 de julho de 2008

Várzea na rádio - Parte 1

Dentro do Difusora Esporte Clube, na Rádio Nova Difusora 1540 AM (novadifusora.com.br) a rapaziada deste Blog apresenta o Contos da Várzea. E no dia do futebol, 19 de julho, a gente levou a rapaziada do TOCA pra fazer parte da roda de debate com apresentação de Gomão Ribeiro.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Interrompido!

Foto de Diego Viñas
Doze anos de idade. Nota dois em história. Camisa dez na bola.
Cinco metros quadrados para uma imaginação sem limites a beira do caos.
Zero de café da manhã. Corpo franzino, trinta quilos de carne e osso e canelas finas.
Mesada de dez reais por ano. Uniforme de quinze reais no camelô.
Cinqüenta balas vendidas por dia no farol.
Dezessete dias para achar uma chuteira desdentada no lixão.
Dois e trinta emprestados da vizinha para ir à peneira.
Dois gols marcados, de barriga vazia, em apenas quinze minutos de jogo.
Só pagou vinte na taxa de inscrição.
Como troco recebeu um não.
Três meses depois procurando emprego. Dois carros roubados no centro da cidade.
Quatro esquinas a frente uma bala de doze que entra no peito.
Morto aos treze do primeiro tempo de um estádio vazio.
Camisa dez num corpo antes hábil, agora inerte.

domingo, 13 de julho de 2008

O dia em que a zaga parou: se um olho o faz pecar...então que peque.

Os ânimos estão exaltados nos dois lados do campo. Nosso time ansioso pois era o primeiro jogo grande nosso. Grande mesmo. O campo era enorme. Se fosse exagerado diria que eu poderia correr a tarde inteira e mesmo assim não chegaria ao outro gol. Como não sou, acredito que chegaria sim, a muito custo, ao meio de campo. Olhei, confesso, desanimado para o outro time. Todos, sem exceção tinham mais de 1 e 80 de altura. E nós lá. Olhando a vida de baixo. Aliás, eu tinha uma leve impressão de que esta não era a última vez que iríamos olhar a vida de baixo, já que aquilo tudo parecia mais um “assassinato colletivo”, e não uma partida de futebol. A Cris estava tranqüila. Serenamente tranqüila. E nós lá, com aquelas caras de bobo, pensando: pô, a gente é que está acostumado com partidas difíceis e perigosas está tremendo e ela aí: tranquilona. Se fosse comparar a Cris, diria que ela era o Dunga da Copa de 94. A única diferença é que, ao contrário de 94, ela era a única mulher no campo de jogo.- Aquece! Aquece! A partida vai começar, meninos... e menina. Quem grita é o nosso treinador. Gostávamos muito dele, sabe. Talvez por causa de suas concepções técnicas e táticas mirabolantes. Que ficavam ainda mais mirabolantes quando bebia. Ou seja, ele era mirabolante o tempo todo. Os meninos do outro time não paravam de olhar a Cris. Quando digo isso, imaginem uma Avenida Paulista em horário de pico (atentem-se para a pronúncia correta da palavra, hem), com um monte de capas da Playboy fazendo o lançamento oficial da revista lá. Então, eram esses mesmos olhos curiosos que desfilavam no campo. Cris era, de fato, o centro das atenções (para você que chegou agora, a Cris é uma loira de olhos verdes muito bonita, e estava jogando com a gente no time). Até o outro técnico olhava pra ela. Às vezes me perdia em meus pensamentos e acabava caindo no olhar deles. E adivinhem pra onde olhavam? Adivinhe? O calção, que era apertado até para mim, parecia brigar com o corpo dela. E os meninos gostavam desta briga. Ah, se gostavam! O juiz chega. O jogo está prestes a começar. Olhada para um lado. Olhada para o outro. Uma breve parada na Cris, a 10 do nosso time, e o juiz coloca o apito na boca. Vai, juiz! Começa isso aí!

domingo, 6 de julho de 2008

Contos da Várzea na rádio

Olá, Amigos!!!

Neste sábado, estreamos o quadro Contos da Várzea na rádio Nova Difusora.

Este novo reconhecimento a você, boleiro, está no ar dentro do programa Difusora Esporte Clube, todos os sábados, das 8h às 11h da manhã. Confira este novo espaço conquistado pela sua verdadeira paixão, o futebol de várzea!!! Você também pode participar, entrar no ar e contar a sua história.

Em breve vamos colocar alguns trechos do programa. Não perca!!!

Um grande abraço!!!

terça-feira, 1 de julho de 2008

O dia em que a zaga parou: chegando no campo...

Todos saíram pelo Campo Limpo, zona sul, meio que com vergonha. Verdade, verdade mesmo, não deveriam ter. Mas tinham. E muita. Deixaram Cris andando na frente. Sozinha. Vez ou outra ela se virava e tratava de apressar o grupo: vamos, meninos. Senão chegamos tarde lá. Ora, eles marcam o jogo e é ela quem dá as ordens? O que menina sabe sobre futebol? Isso, aposto, era o que pensava quase todo o grupo. Digo quase, pois eu não pensava assim. Preocupava-me mesmo o fato de ir jogar num lugar que mais parecia Smalville, após ser atingida pela nave de Clark Kent, de tão fundo que era o campo. Ah, o lugar não era lá muito amistoso. Quebrada total. Não que quebrada não seja amistosa, mas esta, especialmente, não era. Vários nos olhando com cara de reprovação. Alguns de gozação: olha lá, que time comédia. A atacante deles é uma mulher. Rá rá rá. Outros que acompanhavam de bicicleta a nossa chegada estavam era mesmo hipnotizado. Lembra-se você que Cris era loira, linda e de olhos verdes. E os meninos se espantavam com isso. Tão linda. Tão mulher e jogando bola. Que estranho. Pensava: deixa-os falarem. A gente só joga. Na verdade a gente devia mesmo era rezar. E eu sabia disso. Escrevo isso, pois neste momento me lembrei de quando o time adversário entrou em campo...para eles o de jogo. Na minha cabeça praticamente o de extermínio. Que isso, meu Deus...que isso...
Continua no domingo. O de verdade.