segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Feliz bola velha!

Usei o mesmo título do meu último texto na coluna no site Futebol Total.

Segue o merchan:


http://www.futeboltotal.com/colunas/int_colunista.php?id=13&Tabela=Colunista

Faço questão de enfatizar o primeiro e o último trecho para fechar com chave de ouro a importante parcela que a várzea representou no ano de 2007!
Adeus bola velha

Retrospectiva 2007

Boleiro que se preze guarda as datas importantes da vida pelos anos que seu time foi campeão, ou que a seleção conquistou uma Copa. Verdade! Repara com você. Se um amigo, familiar fala que tal situação aconteceu no ano de 2002, você já associa com o ano do Penta. Para os são-paulinos, são inesquecíveis anos como 1992 e 1993, nem preciso falar o porquê. Assim como aconteceu com o palmeirense em 2003, o torcedor corintiano vai lembrar deste 2007 como o ano da queda, ano da vergonha. E agora, em 2008, como o ano da Série B. Não tem jeito!



Várzea

Este foi também o ano para o futebol de várzea. Digo como suspeito que acompanhei de perto os rachões pelos campos da cidade paulistana. Grande ano a todos da Guaianazes e São Mateus. Rapaziada de Lauzanne Paulista, Parque Novo Mundo, Vila Maria e Jardim São Paulo. Valeu a quem nos recebeu em Pirituba e nos campos da Freguesia do Ó. Salve salve Santo Amaro, Itapecerica, Campo Limpo, Capão Redondo, Vila Guarani e todos os varzeanos de plantão.

Finalizo para deixar meus votos de feliz 2008 à equipe G8 Sports que produziu (e fiz parte dessa turma com honra) o documentário Contos da Várzea. Um filme que é mais que a história do futebol amador. Representa a nata varzeana nos contos, na humildade, na importância do esporte na formação de uma periferia esquecida.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Conto, por Luis da UniSant'Anna

A UniSant'Anna foi a primeira campeã do Campenato de Futebol Amador da Federação Paulista, certo? Quem lê o blog já sabe disso. Luis, um dos jogadores, nos mandou um conto e, como muito nos interessa, postamos pra todos vocês. Segue:
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UNISANTANNA CAMPEÃ FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTEBOL AMADOR .

Obs:com um Jogador a menos o árbrito brincou com o nosso Futuro...rsrs.

E coisa eu não se disse na entrevista, mas a primeira final da federação eu assisti em casa junto com o meu Filho que está em umas das Fotos (um branquinho, meio Gordinho de camisa listrada e os primos dele).

Mas valeu, se Deus quis assim, creio eu que foi o melhor e graças a ele fui reintegrado e deu tudo certo. Joguei bem, fiz gol, dei elástico, dei chapéu, demos SHOW com um Jogador a menos........hauhauhauahuahauhauahuahuahuahuahuahuhauahua......

O Carlos Henrique camisa 8 é um amigo que eu levei da Faculdade para a minha vida e em uns dos e-mails que eu mandei pra ele nos dias em que eu fiquei de fora do time...... mandei a letra de uma musica do Claudinho e Buchecha: "Avião sem asa, foqueira sem brasa sou eu assim sem você...

Se puder fazer uma matéria e me mandar ou então colocar no site vai ser legal, pois vai ficar para a vida inteira.....

Obrigado... e Feliz NAtal... Vou Te ligar na Noite de NATAL. Abraços.
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Maravilha... e deu a meia noite de Natal, não é que o cara me ligou mesmo? Juro!
- Pô Diego, num falei que ia ligar? Feliz Natal, ano que vem é nóis e tal!

Muito legal hein! Isso é Contos puro e nato!

domingo, 23 de dezembro de 2007

Diego apóia Contos da Várzea

No último sábado, dia 22, no sítio do ex-santista Diego, hoje no Werner Bremen (ALE).

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Tô cego juizão!!!!



Essa história vem lá da Portuguesinha da Vila Mariana, zona sul de São Paulo. No início da década de 80 existia no campo da Portuguesinha um centroavante chamado José Carlos, vulgo “Zé Carlinhos”.

Os mais antigos diziam que ele espetacular, exímio matador, batia como ninguém na bola, tanto de direita, quanto de canhota. Pelo auto, não tinha pra ninguém, nem Dadá Maravilha poderia fazer melhor, segundo eles, é claro. Pra quem não se lembra, o ex-jogador, tricampeão da Copa de 70, no México, imortalizou a famosa frase: “Só três coisas param no ar, o helicóptero, o beija-flor e Dada”, hilário...

Zé Carlinhos defendeu as cores de dois tradicionais clubes da Várzea, o Moleque Travesso da Vila Guarani (também na zona sul) e a Portuguesinha. Mostrava-se habilidoso e, na maioria das vezes, sagrava-se artilheiro dos campeonatos que disputava.
Conhecia os atalhos dos campos como ninguém, fazia miséria com os zagueirões da época. Todos tentavam, sem sucesso, parar o camisa 9, no entanto, era quase impossível parar o ágil negro de pernas finas. Uma vez conseguiram-lhe parar, e dessa vez foi pra sempre. Uma pancada no joelho que acabara com o sonho de se tornar profissional. Muitos dizem que se não fosse essa contusão, com certeza o jogador iria triunfar pelos campos a fora.

Tinha várias artimanhas para amarrar ou acabar com os jogos. Quando seu time perdia, os meias o procuravam incessantemente na esperança que decidisse a partida. Quando estavam ganhando, aí era festa. Levava a bola para a lateral do campo e pronto, lençol, carretilha, rolinho, drible da vaca, elástico e por aí vai. A torcida ia à loucura.

Porém, há um artifício usado pelo ex-jogador de várzea que entrou para história. É hilário. Isso mostrava toda a sua irreverência dentro de campo. Aqueles que jogam várzea sabem que durante um jogo vale tudo ou quase tudo. Nos momentos dos escanteios, Zé Carlinhos usando da sua malandragem adquirida nos campos de terra batida, abaixava-se e segurava um pouco de terra em suas mãos. Quando o jogador batia na bola, o centroavante dava uma “olhada marota” pro juiz e outra pro zagueiro e atirava-lhe terra na cara, era o tempo para subir sozinho e marcar o gol de cabeça. Em fração de segundos corria para o abraço. Só dava tempo de escutar: Juiz, tô cego! Joga bola meu filho, não vi nada.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Clipes do Contos

Torcida do Vila Nova de Guaianazes

Final do primeiro campeoato de futebol amador da Federação Paulista de Futebol.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Pinta o 7 com pé no chão

Essa veio direto do sul do país, enviada pelo nosso colaborador Eduardo.
Em meados da década de 50, o time do SACE de São João do Polesine foi num torneio para a inauguração das camisas do Avenida de Agudo. Os jogadores da SACE jogavam quase todos de pés descalços, mas, mesmo assim, conseguiram chegar à final do torneio contra o time da casa, o Avenida.

Fotos: Getty Images

Antes da final, houve uma grande aposta, na qual várias pessoas apostaram. A maioria dessas apostas era que o time da casa (com jogadores calçando chuteiras) iria golear a SACE. Por outro lado, numa aposta solitária, algum otimista dizia que a SACE iria golear o Avenida por 7 a 0. Numa outra, valendo uma caxa de cerveja, dizia que ia dar 11 a 0 para a SACE.


Começou o jogo e a SACE colocou os 7 a 0, conforme na primeira das apostas dos jogadores. Mas ainda faltava um grande tempo de jogo e ,para não perder a aposta, os jogadores iam até a área adversária e voltavam para evitar o gol.

Assim a aposta de 7 a 0, que era muito mais lucrativa que a outra, foi ganha e o time inteiro ficou até tarde tomando cerveja, o que provocou várias brigas em casa com suas mulheres.

Um desses jogadores era meu avô.

Dudu

domingo, 16 de dezembro de 2007

Vila, a minha vida é você!!!

1º Campeonato Paulista de Futebol Amador

Torcida Vibrante

Foram 128 equipes! Chegar na final é um grande desafio. E assim, a torcida do Vila Nova de Guaianazes roubou a cena neste domingo na final do primeiro Campeonato Paulista de Futebol Amador - futebol de várzea, pô - oficial.

União na bateria


Mesmo com o vice-campeonato (UniSant'Anna foi a equipe vencedora) a torcida veio em peso. "Trouxemos quatro ônibus", afirmou o presidente da equipe, Valter Nunhezi.

Mais que uma paixão, o time do Vila Nova representa que o amor pelo futebol de várzea existe em Guaianazes. "Lá no bairro as pessoas falam que torcem pelo Vila Nova. O segundo time é o Corinthians, São Paulo e tal.", conta Nunhezi.

Que Milan! Deu UniSant'Anna

Comemoração dos jogadores do UniSant'Anna.
1º Campeonato Paulista de Futebol Amador
No estádio Ícaro de Castro Melo, o assunto foi a final do Primeiro Campeonato Paulista de Futebol Amador da Federeção. Milan e Boca no mundial da Fifa? Que nada! Em campo, o time da UniSant'Anna, da zona norte, contra o Vila Nova de Guaianazes, zona leste.
Depois de um primeiro confronto sem gols em São Bernardo, no segundo jogo, deu o pessoal de Santana. Placar final: 3 a 1. UniSant'Anna é o primeiro campeão de futebol amador reconhecido pela Federação Paulista de Futebol.

O centroavante, estudante de administração e camisa 9, Tiago, fez dois para o UniSant'anna. O meia Luis Henrique (foto), de Educação Física, fez o terceiro. E Douglas, zagueiro, descontou para a equipe da zona leste.
Parabéns UniSant'Anna!






Jogadores aplaudem festa da torcida do Vila Nova

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Pega a galinha aê rapá !

Autor: Celso Júnior
Futebol de várzea entre as equipes do Ajax, da favela Paraisópolis; e Panela, do Jardim Ângela em São Paulo.
Comentários retirados do olhares.com - fotografia on line

Ed Ferreira
um dia com a selecao brasileira,outro na selecao de varzea...assim o bom fotografo mostra o seu trabalho...

Salvatore Casella
cara não me aguento de tanto rir... o cara ta parecendo uma galinha com esses braços levantados....o galo deve ta atras dele e não da bola..heheehehe bela e alegre foto...muito bom junior....1000*
Gustavo Miranda
Acho que depois da pelada vai rolar uma galinha ao molho pardo. Boa foto Celsinho! belo momento.
Sergio Lima
... Nascedouros de novos Robinhos... pedala franguinho... Muito bom Cardeal!!!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Enquete - Copa Kaiser

Dos semifinalistas desse ano,
quem tem chances de levar a Copa Kaiser em 2008?
GDR Danúbio / Freguesia do Ó
EC Nápoli / Vila Industrial
GR AG Madeiras / Brás
GE Lagoinha / Vila Maria
Quer votar? Entre na comunidade
"Contos da Várzea" do Orkut.

Não deixe seu time perder essa hein!

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=32630773

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

A Várzea - Capítulo 5

Por William Ferreira Cassemiro (foto)


Na várzea

- Não lembro... – Paulo fez uma cara de quem não fazia a menor idéia de que história Ademar falava.
- É, tava doendo muito... fazer o quê? – o homem disse – Eu falei pro pessoal que tava doendo, aí eles jogaram a “água benta”, passaram a faixa e disseram pra mim: vai lá, vai lá! Joga que passa... Naquele tempo não tinha essas frescuras que tem hoje não, jogador tinha que jogar.
- E num era? Eu falo isso, num falo Paulo? – perguntou Ademar.
- Fala sim. – concordou Paulo.
- Seu Jorge... esse homem, com a perna enfaixada!!! Enfaixada!!! – dessa vez o tapa foi em Jorge – Sabe o que é isso? Jogar com a perna enfaixada... O senhor já tentou correr com a perna enfaixada? Hum... deixa eu te contar... moço, ele pegou a bola na meia cancha...
- Foi... – concordou o homem.
- A perna enfaixada!!! Presta atenção nisso!!! Dava pra ver a faixa na coxa direita dele. – e Ademar apontou para a coxa do homem.
- Não, – o homem fez uma cara de contrariado – era na esquerda.
- Era? Não era na direita? – Ademar ficou um tempinho pensando – Ah tá... agora lembro bem... lembro bem... era a esquerda mesmo... Seu Jorge... Escuta só... Oh Paulo, presta atenção... No que ele recebeu a bola já deixou o primeiro pra trás, é... porque jogador bom não perde tempo... já recebeu dando um toque pra frente e tchau zagueiro...
- É... o coitado ficou com uma cara de “Deus me livre”. – o homem completou.
- Só nisso a defesa já foi pro brejo... – Ademar, empolgado, ia se mexendo todo esquisito para tentar mostrar como foi o lance – era ele abrindo pra direita e a defesa correndo que nem doida de frente pro gol... E o técnico então? Seu Jorge, o senhor já viu técnico quando percebe que o time vai tomar gol? É um desespero só: “corre fulano, pega sicrano, olha o meia livre... marca ele... volta, ajuda!!!” Isso pra num falar os palavrões porque tem criança perto. Mas moço... quando esse homem chegou na frente da área ele viu o goleiro saindo desesperado,,, Sabe o que ele fez? Moço, o senhor imagina o que ele fez?
- Deu um totozinho por cobertura? – respondeu Jorge e se afastou para evitar o tapa.
- Não... – Ademar agitou o dedo negativamente – não fez isso não... mas eu vejo que o senhor joga futebol... num joga?
- Eu tento – disse Jorge.
- Porque se num jogasse num ia saber dizer isso que o senhor disse agora... E o senhor só num tá certo porque a gente tá falando dele... – Ademar apontou para o homem – Eu também, que eu já joguei minha bolinha, não como ele, mas joguei... eu também ia dar um toque por cima do goleiro...
- É... todo mundo fala isso. – disse o homem.
- Mas esse homem aqui, Seu Jorge... ele num fez isso não... não... isso era fácil... ele partiu pra cima do goleiro... – e lá foi outro tapa de Ademar no peito do homem.
- Eu gosto do drible, tinha que driblar... perco o gol... mas vou pro drible... – o homem pareceu mais confortável com a situação.
- Perdia nada... – retrucou Ademar.
- Perdi alguns... – disse o homem.
- Uns 2 ou 3... que eu vi, 2 ou 3 no máximo! – disse Ademar.- Foi mais... – o homem insistiu.
- Mas esse você não perdeu... – arrematou Ademar.
- Esse não. – confirmou o homem.
- O goleiro até hoje não sabe por onde você passou. Deve tá te procurando ainda... – Ademar soltou outra gargalhada.
- Dei sorte... foi pena que a gente perdeu aquele jogo. – o homem disse e fez cara de choro.
- Não perdeu, não... foi 2X1 pro Quinze! – disse Ademar.
- Foi... pro Quinze de Pirápolis. – disse o homem.
- Então... – Ademar fez cara de quem não estava entendendo.
- Eu era do Quinze de Bananais. – disse o homem.
- O quê? De Bananais? Você é o... o... – Ademar parecia não acreditar.- O Doda, meia do Quinze de Bananais, vice-campeão da várzea paulista em 62, 63, 64 e 65. – o homem disse sorrindo.
- Não acredito... O Doda? – Ademar ficou de boca aberta olhando para Doda.
- É... sou eu. – sorriu Doda.
- Mas eu não acredito... o Doda? – Ademar estava paralisado.
- Sou, sou eu mesmo. – disse Doda e devolveu um tapa no peito de Ademar que, surpreso pela revelação e pelo tapa, virou as costas para Doda e falou:
- Paulo, lembra de uma história que eu te contei de um meia, que jogou os campeonatos de 62, 63, 64 e 65?
- Mais ou menos... – Paulo respondeu meio indeciso.
- Então... – agora Paulo foi a vítima do tapa de Ademar – era esse o nome do cara... Doda!
- Eu mesmo!!! – Doda interrompeu sorrindo para os dois.
- Cara, – Ademar olhou feio para Doda – mas você era ruim demais... dos piores meias que eu vi jogar. – e com o dedo em riste virou-se para Jorge – Moço, esse seu vizinho afundou o time de Bananais por 4 anos! Vamos embora Paulo.Paulo olhou para Doda com desprezo.
- Vamos... seu pereba!!!



sábado, 8 de dezembro de 2007

A Várzea - Capítulo 4

Por William Ferreira Cassemiro

Na várzea

- É, ele me falou que jogava uma bolinha no fim de semana. – disse Jorge.
- É... é verdade, falei mesmo... – confirmou o homem.
- Bolinha? – Ademar não se conteve e riu. – Aha ... Meio time... ele era meio time do Quinze! Esse cara jogava muito... – na empolgação, Ademar batia no peito do homem – E aí? Tá apreciando esses pernas de pau? Homem, como tem nêgo ruim de bola na várzea hoje... No seu tempo é que a várzea era boa... Pode pegar qualquer um daquele tempo, qualquer um!!! Se por nos times de hoje vira um craque, num tô falando de time do Brasil não, viu Seu Jorge? Qualquer time do mundo!!!
- É... – o homem, quase querendo se esconder de vergonha, concordou.
- Eu conto pros meus netos, não conto Paulo? – e antes que Paulo pudesse responder Ademar continuou – Conto sim: futebol era futebol mesmo na várzea dos anos 60, hoje só tem esses pernas de pau.
- É... é o que eu tô vendo... – o homem continuou concordando.
- Eu não disse que ontem mesmo eu tava contando pro Paulo, num foi Paulo?
- Foi sim. – Paulo não sabia se prestava atenção ao jogo ou ao Ademar.
- Tava falando daquele lance seu... – Ademar não parava de gesticular.
- Qual? – perguntou o homem.
- Aquele... – disse Ademar levantando as sobrancelhas e inclinando a cabeça.
- O de cabeça? – o homem fez uma cara de quem não sabia o que dizer.
- Não... – Ademar inclinou a cabeça pro lado esquerdo, bateu com as costas da mão direita na palma da esquerda fazendo um barulho que assustou o homem e explicou:
- Aquele pelas canetas do zagueiro...
- Ah... sei... foi sorte. – respondeu o homem.
- Sorte? – Ademar arregalou os olhos – Sorte do zagueiro, se não fosse você ter feito aquilo eu nem me lembraria dele. Pode ter certeza que muita gente só lembra daquele zagueiro por causa de você... Também... coitado... você gostava de driblar o infeliz, né?
- Ah, eu sempre fui de driblar... pra mim, é melhor que fazer gol! – finalmente o homem deixou de parecer encabulado.
- Homem, eu te digo... Hoje não tem driblador que nem nos anos 60... Tem Paulo? Tem Seu, Seu... Como é mesmo o nome do seu vizinho? – e Ademar deu com as costas da mão no peito do homem.
- É Jorge. – respondeu ele.
- Tem, Seu Jorge? Me diz? – e aproximou-se do moço.
- Tem não. – Jorge respondeu se afastando um pouco de Ademar.
- Não digo? Tem mesmo não... Hoje mal, mal o camarada sabe fazer uma “firulinha” e já vira fenômeno... Fenômeno!!! Eu dou risada quando escuto isso... – foi engraçado o modo como Ademar tentou mostrar o que era uma “firulinha”, com aquele corpo pesado se balançando de um lado pro outro, se não houvesse se segurado em Paulo o tombo seria inevitável.
- É... O pessoal exagera um pouco, – concordou o homem – mas tem muito garoto bom de drible ainda.
- Tem nada, o que tem muito é marcador ruim, – discordou Ademar e apontou para o campo – olha só... olha lá... olha... olha... aí... tô falando... – e deu de novo com as costas da mão no peito do homem – diz pra mim, não... diz pra mim, aquilo é drible que dá pra tomar? Tava na cara que o meia ia pra direita. Num tava Paulo?
- Claro... na cara. – concordou Paulo.
- Como é que alguém toma um drible desses? Não é o meia que é bom não, viu Seu Jorge? – Ademar puxou o assustado Jorge pelo braço e falou como se confidenciasse – É o marcador que é ruinzinho mesmo.
- É... o garoto vacilou agora. – interferiu o homem.
- Você tá sendo bondoso, – outro tapa no peito do homem – ele vacila toda hora... Lembra do zagueirão do Quinze?
- O Zé Mário? – o homem respondeu como quem pergunta.
- Não lembro o nome dele... Acho que era esse mesmo... um grandão... – Ademar disse levantando o braço à altura do zagueiro.
- Era o Zé Mário. – o homem sorriu e confirmou – Zagueirão.
- Então rapaz, ele tomava um drible desse? Paulo escuta essa... me diz o senhor, que jogou com ele: Ele tomava um drible desses? – disse Ademar enquanto mandava outro tapa no peito do homem.
- Nunca! – o homem respondeu já ficando mais para o lado, tentando evitar o próximo tapa.
- Então... – Ademar balançava a cabeça negativamente – acho que nem hoje ele tomava... porque ele pode tá aí com seus... seus 65, 70 anos? Mas vou te falar uma coisa... sabe muito de bola... Não tem molecagem na frente de quem sabe de bola... o camarada podia se contorcer pro lado que fosse... ele ficava ali... só cercando... quando o sujeito via... já tava sem espaço pra cruzar... perdia a bola.
- Passei muito por isso, – disse o homem abaixando a cabeça – tinha uns zagueiros que faziam assim mesmo, acabavam com o espaço.
- Você? Pára com isso. – retrucou Ademar – Eu não lembro de ter visto nenhum zagueiro fazer isso com você... eu lembro, viu Seu Jorge? – e puxou de novo o moço pelo braço – Presta atenção! Eu lembro é dele deixando a zagueirada perdida! Isso eu lembro!!!
- Não exagera, – o homem voltou a se envergonhar – fui muito bem marcado, teve jogo que eu rezei pra não receber bola porque sabia que o zagueiro ia ganhar.
- Que que é isso? Você? – nesse momento Ademar deu uma risada tão debochada que chamou a atenção até de quem estava em campo – Você rezando pra não receber bola? Só se fosse porque tinha dó do zagueiro. Quer dizer... tinha dó de alguns, né? Que a maioria comeu o pão que o diabo amassou na sua mão ou melhor, no seus pés!
- É... talvez... – o homem deu um sorrisinho amarelo – Tá, tá bom, um ou outro, não posso negar.
- Como é? Um ou outro? Ah... a idade te deixou muito modesto. – e Ademar disparou outro tapa com as costas da mão direita no peito do homem, que havia se descuidado da distância – Deixa eu contar pra esses dois aqui um lance que eu lembro, foi o seguinte... Presta atenção Paulo, escuta seu Jorge, foi o seguinte, esse cara recebeu a bola na meia cancha... – Foi nesse momento que o time local iniciou um contra-ataque e o homem aproveitou para tentar evitar que Ademar o deixasse mais constrangido:
- Opa, que bolão!!! É agora... espera aí... vamos ver esse lance... apóia lateral, vamos!!!
A bola foi lançada na esquerda, o zagueiro tentou deixar o lateral impedido, mas o bandeira mandou seguir. O ataque levava clara vantagem com o centroavante fechando pelo meio da área. Tudo o que o lateral tinha de fazer era cruzar na medida para o chute.
- Vamos!!! Isso!!! Joga na área, na área... – o homem se empolgou mas logo viu que não ia dar em nada – Ah não, puta que pariu... olha isso... ah... não é possível! Aquilo é lateral? É brincadeira, viu?... É parece que é o que você falou mesmo... Hoje qualquer um é jogador... no meu tempo um lateral sabia pelo menos cruzar.
- Nossa, no seu tempo... cê num vai fazer essa sacanagem com você mesmo, né? Não vai se comparar com esses perebas aí... Deixa eu continuar... – outro tapa de Ademar no peito do homem – olha Paulo, presta atenção Seu Jorge...eu já te falei daquele jogo que o nosso craque aqui entrou com a perna enfaixada, Paulo?
- Não lembro... – Paulo fez uma cara de quem não fazia a menor idéia de que história Ademar falava.

Continua na próxima terça o último capítulo da série A Várzea.